O tempo em Memphis parecia não querer passar. Cada minuto parecia uma hora. O ar da rua trazia-me desgosto. No fundo senti que ali, naquele lugar distante e onde tantas vidas se misturam, o tempo não queria passar. Talvez fosse para mim.
Corria pelas ruas, perdia-me sem medos, porque no fundo já eu me sentia perdida. Não havia muito para onde ir, porque fosse eu para onde fosse, na minha cabeça lembrava-me sempre do mesmo.
Por momentos pensei que aquela enorme cidade me vigiava, sabia tudo o que eu fazia, o que eu pretendia. Talvez naquele momento ela quisesse devorar-me.
Pensei que por momentos ela quisesse mesmo. De um momento para o outro sentia os seus enormes olhos postos em mim, vindos de todo o lado, para todo o lado que eu ía.
Mais tarde, quando o sono começava a tomar conta do meu corpo drogado e cansado de ansiolíticos e calmantes, sentia uma mão fria que me abafava os cabelos soltos pelo rosto, que os tirava docemente de forma a me proteger daquele olhar. Talvez fosse isso que essa mão pretendia, proteger-me, agradecer-me por ter vindo, por ter aberto os meus braços perante o tamanho do desespero que aos meus olhos se despia.
Viver assim deixava-me cansada. Não havia muito a ser dito. Limitava-me a ir para a rua dia após dia ouvir as conversas que as pessoas me traziam, investigar, ouvir de novo e sentir-me patética no meio de gente tão distante de mim. Sentir-me patética por estar no mundo de alguém bem mais soberano. Sentir-me minúscula mesmo, por meter um fio de cabelo sob um espaço divino.
Há luzes que nos cegam, outras que nos consolam e outras ainda...que nos estendem parte da sua eterna luz.
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